O fenômeno Bitcoin: celebrando 15 anos de revolução financeira

Há exatos 15 anos, um evento marcante no mundo da tecnologia financeira aconteceu: o lançamento do Bitcoin. Em 31 de outubro de 2008, um indivíduo ou grupo sob o pseudônimo de Satoshi Nakamoto publicou um documento intitulado Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System. Esse documento visionário serviu como o embrião para uma revolução monetária global, lançando as bases para o surgimento das criptomoedas e das tecnologias subjacentes, como blockchain.

As características inovadoras do Bitcoin

O Bitcoin, a primeira criptomoeda do mundo, trouxe consigo uma série de características inovadoras que o diferenciam das moedas tradicionais.

1. Descentralização: Ao contrário das moedas emitidas por governos e instituições financeiras, o Bitcoin opera em uma rede descentralizada de computadores, eliminando a necessidade de intermediários.

2. Blockchain: A tecnologia blockchain, na qual o Bitcoin é baseado, é um registro público de todas as transações realizadas com a criptomoeda. Esse livro-razão é imutável e transparente, garantindo a segurança e integridade das transações.

3. Escassez digital: O Bitcoin possui um limite máximo de 21 milhões de moedas, tornando-o digitalmente escasso. Isso contrasta com as moedas fiduciárias, que podem ser impressas em quantidades ilimitadas pelos bancos centrais.

4. Mineração: Novos bitcoins são criados por meio de um processo chamado mineração, no qual computadores poderosos resolvem complexos problemas matemáticos. Esse processo é crucial para manter a segurança da rede.

5. Pseudonimato: Embora as transações sejam registradas na blockchain, as identidades dos usuários permanecem pseudônimas, proporcionando um certo nível de privacidade.

Breve História do Bitcoin

O Bitcoin teve um início modesto. Após o lançamento do whitepaper de Nakamoto em 2008, o primeiro bloco de Bitcoin, conhecido como o “bloco gênese”, foi minerado em 3 de janeiro de 2009. Nos anos seguintes, a criptomoeda ganhou lentamente a atenção de entusiastas de tecnologia e círculos acadêmicos.

Um ponto de virada ocorreu em 2013 e 2014, quando o Bitcoin atraiu a atenção da mídia internacional devido à sua volatilidade e ao aumento exponencial de seu valor em relação ao dólar. Isso motivou um número crescente de investidores e entusiastas a explorar o potencial do Bitcoin e das criptomoedas em geral.

Em 2017, o Bitcoin atingiu um marco histórico ao ultrapassar a marca dos $10.000, atraindo ainda mais investidores e especuladores para o mercado de criptomoedas. No entanto, a jornada do Bitcoin foi marcada por altos e baixos, com períodos de valorização rápida seguidos por correções significativas. Apesar disso, o Bitcoin continuou a ganhar aceitação global e a ser adotado por indivíduos, empresas e até mesmo governos.

O impacto global do Bitcoin

O Bitcoin não é apenas uma moeda digital; é um fenômeno global que impactou vários setores da sociedade. Aqui estão algumas maneiras pelas quais o Bitcoin influenciou o mundo:

1. Inclusão financeira: Em muitas partes do mundo, especialmente em países em desenvolvimento, o Bitcoin oferece uma solução para pessoas que não têm acesso a serviços bancários tradicionais. Qualquer pessoa com uma conexão à internet pode participar da economia global usando Bitcoin.

2. Transferências internacionais de dinheiro: O Bitcoin simplificou e barateou significativamente as transferências internacionais de dinheiro, oferecendo uma alternativa mais eficiente aos métodos tradicionais que muitas vezes são lentos e caros.

3. Ativos digitais e tokenização: Além de ser uma forma de dinheiro digital, o Bitcoin inspirou a criação de milhares de outras criptomoedas e tokens, cada um com seus casos de uso específicos, desde contratos inteligentes até soluções de cadeia de suprimentos.

4. Adoção institucional: Grandes instituições financeiras, fundos de investimento e até mesmo governos começaram a explorar o Bitcoin como uma classe de ativos, sinalizando uma aceitação gradual da criptomoeda no mainstream financeiro.

5. Educação financeira: O Bitcoin estimulou o interesse público em finanças e tecnologia, levando a um aumento na educação financeira e no entendimento sobre como o dinheiro e as transações funcionam no mundo digital.

O futuro do Bitcoin

Quinze anos após o seu anúncio, o Bitcoin continua a evoluir e a desafiar as normas financeiras estabelecidas. A tecnologia blockchain subjacente está sendo explorada em várias indústrias, desde a cadeia de suprimentos até a votação eletrônica, prometendo tornar os processos mais transparentes e seguros.

No entanto, o Bitcoin também enfrenta desafios significativos, incluindo questões regulatórias, volatilidade de preços e tentativas de captura pelo sistema financeiro tradicional. Resolver esses desafios será fundamental para garantir a sustentabilidade a longo prazo do Bitcoin e de outras criptomoedas.

À medida que celebramos os 15 anos do Bitcoin, é importante reconhecer o impacto duradouro que essa inovação teve no mundo financeiro e tecnológico. O Bitcoin não é apenas uma moeda digital; é uma ideia que desencadeou uma revolução global, transformando a maneira como pensamos sobre dinheiro, transações e confiança. Enquanto olhamos para o futuro, é emocionante imaginar como o Bitcoin continuará a moldar nosso mundo nas próximas décadas, à medida que avançamos para uma era cada vez mais digital e descentralizada.

Acreditem, esta Revolução está apenas começando!

Wladimir Crippa, administrador do grupo Bitcoin Brasil no Facebook (quase 160.000 membros); organizador da bitconf, primeira conferência sobre o assunto, realizada desde 2014; foi presidente da Associação Software Livre Santa Catarina; foi assessor do Ministro da Ciência e Tecnologia (2016); atualmente membro da Comissão Temática de Inovação e Tecnologia do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável.

Bem-vindo, DREX!

O Banco Central do Brasil anunciou este mês a criação do DREX – Digital Real – a “moeda digital” do Estado brasileiro. Eu acho esta notícia muito boa para todos os entusiastas da tecnologia blockchain, do Bitcoin e das criptomoedas em geral.

Alguns bitcoiners mais radicais, das primeiras gerações (early adopters) têm se manifestado de forma crítica, até meio raivosinha, em relação à essa notícia. Mas quero dizer porque eu considero essa uma das melhores notícias dos últimos anos para nós, evangelistas do Bitcoin, não apenas para o Brasil, mas para o mundo, dada a expressão do Brasil.

Até poucos anos atrás – coisa de 5 anos –  o simples fato de você ter uma movimentação em sua conta bancária relacionada à Bitcoin era motivo suficiente para o banco te declarar cliente non grato, encerrar sua conta e nem dar alguma explicação. O Bitcoin era tão perseguido que as exchanges e os vendedores P2P tinham que orientar os clientes a não escrever no envelope (quando depositavam em dinheiro) “Bitcoin” ou qualquer coisa que identificasse o depósito à uma transação cripto. E praticamente todas as exchanges tiveram suas contas encerradas em algum momento.

Para quem viveu estes anos, presenciar, hoje, o Banco Central do Brasil anunciar o lançamento de uma criptomoeda – ainda que de forma envergonhada, pois vi na live do Banco Central o coordenador do projeto, Fábio Araújo, negar repetidas vezes que seja uma criptomoeda –  é motivo de alegria e nos leva inevitavelmente a pensar: eu te disse!

Desde 2013 realizo palestras sobre Bitcoin. Provavelmente as primeiras palestras sobre o assunto na Campus Party, no Fórum Internacional do Software Livre, na The Developer Conference, na Cryptorave, no Congresso Catarinense de Software Livre, no Festival Latinoamericano de Software Livre, foram feitas por mim. E em todas, sempre afirmei que o próximo passo do dinheiro seria/é o dinheiro digital.

Neste futuro, cada dia mais próximo, veremos conviver, em harmonia (ou mais ou menos em harmonia, espero), o Bitcoin e outras criptomoedas descentralizadas, as criptomoedas de Estados (CBDC, sigla em inglês para Central Bank Digital Currency), criptomoedas privadas (de empresas), criptomoedas sociais (uma evolução das moedas sociais) e, quem sabe, outros tipos de criptomoedas ainda nem imaginados.

O ponto central é que as criptomoedas são uma realidade, são o futuro inevitável do dinheiro. Em menos de uma década veremos as pessoas utilizando-as no dia-a-dia.

O DREX é superior ao Bitcoin? Claro que não! Centralizado; controlado pelo Banco Central; potencialmente e provavelmente sem privacidade alguma, permitindo até mesmo ser congelado pelo BC, conforme foi verificado em seu código; não é uma “blockchain de verdade”, como a do Bitcoin; emissão ilimitada de DREX, enfim, não há como comparar com o Bitcoin. E não devemos mesmo comparar com ele. O ponto central, na minha opinião, é o reconhecimento do Estado da tecnologia das criptomoedas; é um certo aval que é dado, indiretamente, às criptomoedas; é mostrar que quem usa criptomoedas não está cometendo nenhum ato ilícito; é a oportunidade que isso criará para o crescimento do Bitcoin. Sim, pois na medida em que as pessoas forem usando o DREX e tomarem conhecimento de que muitas coisas podem ser feitas com o Bitcoin e não poderão ser feitas com DREX, acabarão usando também o Bitcoin em parte ou mesmo em todas as suas movimentações.

Por isso, seja bem-vindo, DREX!